Eu poderia começar com o antigo “Era uma vez...” ou com o simples
“Era uma tarde de sol...”, mas isso são tão românticos, não seria certo. O amor
dos dois era tão superficial, ela o desejava, porém, não queria sair como a
boba apaixonada, ele era mulherengo e namorar era coisa de gente tola, achava
que sua vaidade e sua imagem com os outros vinha bem antes de qualquer garota,
claro, sua beleza era estonteante, era de fato um rapaz muito bonito. Mal
sabiam os dois que um não viveria sem o outro. Beijos aconteceram, encontros
aconteceram, era inevitável não se verem, com tantas coisas que o destino os
pregava e a cidade simples e pequena que viviam. A garota, tola apaixonada,
correu atrás e ela o queria somente para ela, como toda garota espera de um
namorado, mas a personalidade mulherengo dele atrapalharia, afinal, como pode
um homem que sempre viveu rodeado de mulheres, poderia largar todas aquelas
garotas ali, se jogando pra cima dele, por apenas aquela garota boba que só
queria aproveitar a vida ao lado de quem “ama”? Até que uma hora ela cansou,
cansou de correr atrás, de se importar, cansou de esperar. Como qualquer outra,
ela arranjou um namorado, ela o amava? Sim, mas como um irmão e não como todos
esperariam de um namoro. Inconformado em não ver mais aquela garota frequentar
os mesmos lugares que ele ia, ao ver que ela não estava mais correndo atrás dele,
o garoto começou a perceber algo diferente e estranho, perguntava sobre ela,
onde estaria, com quem estaria, e ao descobrir que ela naquele exato momento em
que ele a procurava, ela estaria com outro, ficou inconformado, como ela
poderia? Ele pensou, se o amava tanto, como poderia estar nos braços de outro?
Então ele correu atrás, e decidiu largar a vida que tinha com mulheres em sua
sombra e viver a vida ao lado dela, daquela que ele tanto ignorou. O tempo
passou e seus hábitos mudaram, ele muito ciumento, tirou-lhe seus vestidos,
suas minissaias, seus decotes, ela era apenas dele, o que ele via, ninguém mais
poderia ver, ela aceitou seu jeito de trata-la por amor. Ela pensara “ele me
ama, do seu jeito estranho, mas me ama”. Os anos se passaram e aquele amor não
poderia passar apenas de breves visitas e beijos calorosos no portão da casa
dela, queriam acordar e ver o sorriso um do outro, acordar e saber que ela
estaria ao seu lado, acordar e saber que ele estaria ali para ela. O casamento
aconteceu, o amor dos dois explodia no peito de cada, e quem poderia
impedir-lhes de amar? Ninguém. Ele antes era rodeado de garotas aos seus pés
pedindo para beijá-lo e agora ele era rodeado de sua esposa e duas filhas, ela
era de casa e adorava ver um filme, mesmo se repetido, e agora continuava isso
em volta de sua família. Os anos passam, e aquele amor já não era mais o mesmo,
foi desgastando, o ciúme transparente e contrárias opiniões foram causando
brigas e mais brigas, ele não consegue aguentá-la mais e ela não entende a
falta de compreensão que ele tem por ela. A briga chega ao seu ápice e com ela
os verdadeiros pensamentos de seu interior, ele diz que precisa de espaço e que
é muito vaidoso, precisa ser livre e como ele dizia “sou vaidoso e gosto de
sair, você só quer ficar em casa, acho melhor, acabar por aqui”. Ela olha
assustada, não esperava isso, as brigas foram tantas, todas muito parecidas,
achava que essa era apenas mais uma, era isso? Acabara ali? Naquele momento?
Anos de dedicação um ao outro terminariam naquele instante? E as filhas?
Aceitariam toda essa história de que não dava mais? Pode ser que sim, pode ser
que elas aceitem, pode ser que sejam melhores separados, pode ser que sejam
mais felizes, mas como eu disse no começo, ela não ligou e ele correu atrás,
ela esta esperando tudo acabar, mas sabe que ele irá voltar, ele sabe que
voltará!