Bagunça, caixas, lembranças e afins


Deitada de pernas para ar enquanto escutava minha música predileta, percebi que já havia passado da hora de arrumar meu quarto. Estou uma confusão, não nego. E não sei porque, mas sinto que ajeitar meu redor pode acabar me ajeitando também. Pode parecer idiotice, mas de certa forma, funciona. O quarto de uma pessoa nada mais é que um refúgio para todos os seus maiores sonhos e lembranças, que com o tempo (ou a falta dele), acabaram ficando sem espaço no mundo lá fora. E o que fazemos com tudo isso? Guardamos em caixas e mais caixas repletas de pedaços de papeis e fotografias, na esperança de um dia podermos reabri-las e sentir aquele gostinho da felicidade que um dia cada tranqueira daquelas já nos trouxe.
Até porque, você sabe que tudo isso traz muito mais que simples recordações. Cada lembrança, traz consigo um pedacinho do que você é ou deixou de ser em uma dessas reviravoltas da vida. Seja aquela garota sorridente que sempre dizia o que pensava ou aquela criança tão quietinha e diferente das outras, que entre palavras e brincadeiras, acabava sempre optando por um velho caderno e uma caneta.
Da maneira mais cuidadosa possível, abri uma das caixas em clima de nostalgia. Em cima de diversos papeis já amarelados pelo tempo, uma foto com várias crianças sorridentes me chamou a atenção. Custei a reconhecer uma garotinha de faixa colorida nos cabelos e olhinhos brilhando que estava abraçada com outra garota de longos cabelos castanhos, para a qual ela, na época, revelava seus maiores segredos, que por mais bobinhos que fossem, as tornavam as inseparáveis 'melhores amigas para sempre'. A garota, era eu. E quanto a essa amizade eterna, infelizmente acabou. Não me lembro quando nem porquê, simplesmente foi sumindo com o tempo. 
E se hoje relembro tudo isso, confesso que sinto saudades, mas aos poucos aprendi que certas coisas a gente tem que deixar ir, por mais que não queiramos isso. Todo novo ciclo possui uma acolhida e uma despedida. E ciclos se renovam todo dia, toda hora, todo momento. 
No fundo, a gente se despede do ontem com carinho porque sabe que cada caixa que vai embora é, no mínimo, um aprendizado. As vezes me pergunto se a bagunça que se acumula dia após dia em nossos quartos não é uma vontade nossa, bem sincera e honesta, de nos obrigar a abrir as caixas, portas e gavetas para analisar a vida de vez em quando. As histórias vão, mas a gente fica. E a parte divertida de você relembrar de tudo é que você se analisa, vê o que mudou depois de tempos, ou até mesmo o que não mudou. 
Engoli em seco as lembranças quando fechei a caixa. E você deve se perguntar o porquê disso. Mas é que além das tranqueiras e fotos velhas que não tinham mais valor, ali estavam diversas coisas que um dia já foram importantes e necessárias. O tempo passou, mas será que a importância se foi? Estive a um passo de jogar tudo fora, porém, com um enorme nó na garganta, parei para pensar naquele velho papo de que a gente precisa descartar o excesso e tudo aquilo que não é necessário pra ser feliz. 
''Mas e se uma dessas caixas ainda me fizessem feliz por algum motivo bobo?'' Voltei atrás e recoloquei tudo naquela enorme caixa, e decidi, que a partir daquele momento, ali seria a moradia fixa de todas as minhas lembranças. 
E se um dia a saudade bater, não terei medo de abrir. Lerei cada carta, beijarei cada foto, e acima de tudo, agradecerei baixinho por todas as pessoas que já passaram por minha vida e bagunçaram cada pedacinho dela.

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